4 de Junho 2016
Workshops antigos:
- Introdução - 2 Dias
- Intensivo - 1 Semana
- Residência com Apresentação
- 3 semanas
- Workshops em Clown e Bufão
Elementos comuns aos três primeiros workshops:
Um trabalho sobre a presença do actor assente no
entusiasmo com que joga um jogo, na sua capacidade em aceitar a incerteza e
imprevisibilidade, e na sua humanidade ao mostrar o que lhe acontece nesse
processo.
Uma síntese única das abordagens pedagógicas de Philippe
Gaulier, Jacques Lecoq, Ami Hattab e Keith Johnstone, combinando exercícios de
Jogo Teatral (Le Jeu), Clown, Tragédia Grega, improvisação e diversas
disciplinas físicas para fortalecer a presença de cena e repertório criativo de
cada participante.
No intensivo de uma semana, o trabalho é mais detalhado e
leva à construção de personagem e à análise de construção de cenas.
Na residência, aplicamos esse trabalho à criação de um
produto final - uma apresentação pública de um trabalho original.
Nos exercícios que propomos, tal como acontece perante um
público, procuramos um objectivo simples e entusiasmante e/ou o envolvimento total num jogo com outro actor. Deixando noções como
"acreditar", "sentir" ou ter "boas ideias",
realidades psicológicas e internas, que deixam o actor fechado e"fora de
jogo" e entregando-nos à razão principal de se fazer teatro: o puro prazer.
Workshop Introdução 2 Dias
Dia 1
O foco do primeiro dia incide sobre os princípios do
nosso trabalho com actores e performers: Jogo Teatral (Le Jeu), Ponto Fixo,
Major e Minor, Cumplicidade, Impulso, Espontaneidade (ver abaixo). Fazemo-lo
com recurso a jogos e exercícios específicos que progressivamente servirão para
estruturar improvisações básicas.
Inicialmente, procuramos permitir aos participantes o
total acesso ao fundamento de todo o trabalho posterior: o prazer. Esse será o
fuel do impulso físico, da energia vocal e da imaginação, e apenas pelo prazer
tentaremos desafiar os limites que cada um se impõe. Será um primeiro dia
iminentemente grupal, envolvendo trabalho de consciência física, ritmo,
concentração e trabalho de conjunto.
Pede-se aos participantes que venham com o máximo de
disponibilidade física e preparados para reincarnar a versão deles próprios com
7 anos.
Dia 2
Durante o segundo dia repassamos os princípios e
ferramentas explorados no dia anterior e aprofundamo-los em improvisações de
complexidade crescente com o resto do grupo como público. Introduzimos
exercícios de voz como portal para sair do domínio do lógico e psicológico e
descobrir níveis surpreendentes de energia e criatividade. Por experiência
directa, distinguiremos o que torna interessante uma cena entre actores e o que
atrai a atenção do público.
Este segundo dia oferece
também a oportunidade de explorar as noções de vulnerabilidade e “beleza”
individuais em cena, algo que é muito específico a cada actor. Há formas de se
mostrar que convêm a umas pessoas e que noutras não são credíveis, que numas
atraem o público e noutras o repulsam. Procuraremos o que funciona com cada um
para que cada um possa aumentar o seu repertório criativo e ganhe confiança na
canalização livre da energia própria.
Nos primeiros dias do curso os objectivos são trazer vida
à performance, promover a liberdade imaginativa e aumentar o dinamismo físico e
vocal de cena com o impulso único do prazer do jogo.
A segunda metade deste curso estende os princípios
utilizados inicialmente à construção de personagem, tanto em improvisações mais
complexas como no trabalho com texto.
Conteúdo do Curso
.Cada dia começa com um aquecimento físico e de
disponibilização total do corpo e do impulso de jogo.
.Através de exercícios físicos e jogos, começamos por
familiarizar os participantes com os princípios e fundamentos que sustentam o
nosso trabalho (ver abaixo).
.Progressivamente, integramos estes princípios em
improvisações básicas. Este trabalho inicial mantém o ênfase no jogo e no
prazer como fuel para o seu impulso físico e vocal, convidando os participantes
a sair da sua zona de conforto e descobrir novas possibilidades expressivas.
.Passaremos de um foco colectivo para um foco mais
individual, explorando noções de vulnerabilidade e “beleza” em cena, algo que é
muito específico a cada actor – o que convêm e atrai num, noutro não é credível
e repulsa. Cada participante poderá encontrar formas de canalizar a sua energia
e aumentar o seu repertório expressivo.
.Daremos uma introdução ao trabalho com personagem
através do método do disfarce-entrevista.
.Finalizaremos com um trabalho novamente de grupo com
esboços de cenas teatrais em diferentes géneros, com ou sem recurso a texto, de
forma a explorar os ritmos e distinguir o que faz uma cena funcionar.
OBJECTIVOS
.Encontrar a presença única e o magnetismo de cada
perfomer.
.Desenvolver a entrega e a liberdade num palco através do
prazer em acções e jogos simples e claros.
.Treinar a capacidade de agir sem certeza e de evitar o
discurso interno e psicológico.
.Aprendizagem completamente prática referente à
construção de personagem e criação de cenas.
.Cada caso será trabalho de forma específica.
Residência/Apresentação - 3 semanas
Depois de uma versão mais extensa do trabalho descrito no
Intensivo de uma semana, passamos à aplicação de todas essas aquisições na
construção de cenas que poderão estar subordinadas ou não a um tema (dependendo
dos objectivos da residência). A criação será feita a partir de improvisações e
de ideias originais dos participantes. Estes poderão trazer já ideias ou textos
para serem testados e trabalhados. Depois de trabalharmos em cada ideia
procurando formas de lhes dar uma vida especial, faremos com os participantes
uma selecção final das propostas e improvisações que funcionem.
Workshop Clown e Bufão
Dois workshops nos antípodas um
do outro, de duração variável entre 2 dias e 3 semanas.
Clown – a ingenuidade, o jogo
infantil, a amplificação de características individuais até ao ridículo. A
descoberta do que em nós faz rir os outros é um processo trágico em que
aprendemos a rir-nos de nós mesmos. O estado que se busca é indefinido e frágil,
e não há fórmulas para encontrá-lo, apesar de haver muita técnica por detrás da
simplicidade. Como abraçar o falhanço e fracassar espectacularmente diante de
um público com um prazer maravilhoso? Esse é o objectivo da introdução ao
clown, a que se segue a construção de uma personagem individual, com o seu
universo, a sua loucura, os seus rituais. Aí inicia-se o trabalho de dupla e a
criação de números.
Um trabalho sério para não se
levar demasiado a sério.
Bufão – a inteligência aguda, a
vingança dos proscritos, dos disformes e dos rejeitados, que voltam para
parodiar com loucura e estratégia os sacanas que os afastaram. Uma blasfémia em
que nada é sagrado e tudo pode ser lenha para o fogo demoníaco daqueles que já
não têm mais nada a perder. Trabalho muito físico e enérgico, em que cada um
encontrará uma deformidade que lhe servirá de veículo para um estado alterado.
Um instrumento poderoso para actores e não actores descobrirem o gozo da
imitação, da ridicularização, da crítica velada e venenosa.
O Jogo Teatral (Le Jeu) – De forma a produzir uma boa
performance a imaginação ou fantasia devem estar activadas pelo jogo. O jogo
traz prazer ao jogador libertando-o do julgamento de si, formas inconscientes
de defesa, e ideias limitadoras sobre “representação”. Corpos e olhos que por
vezes estão mortos em cena avivam-se através do Jogo, que mais não é do que a
capacidade infantil de brincar, imitando, aceitando qualquer ideia,
envolvendo-se completamente nela, respeitando as regras do jogo.
Cumplicidade (Complicité) – Cumplicidade define-se
como um entendimento profundo e espontâneo entre pessoas que é não é visível
mas que se materializa em acções em sintonia. Acontece em cena quando dois
actores encontram uma ligação profunda e se perdem no jogo entre eles mesmos e
com o público. Todos partilham então este prazer de serem cúmplices de algo
precioso. A cumplicidade requer o desenvolvimento de uma grande sensibilidade e
consciência física de cena.
Ponto Fixo – O ponto fixo fornece um momento de foco que é a pontuação da performance de um actor. Uma suspensão momentânea. O corpo mantém o impulso e energia pronta para a próxima acção, os olhos brilhantes com o jogo. Muitos actores movimentam-se continua e involuntariamente em cena, diluindo o poder da sua performance. Uma vida física fraca e uma inconsciência geral do corpo produzem comunicação difusa em palco e a subtileza ou o humor da situação perdem-se. Com ponto fixo o actor gere a sua energia e os focos intensos criam pontos de interesse.
Major e Minor – Estes são os dois pólos opostos sempre
presentes no teatro. No seu sentido mais técnico, há normalmente um actor sob o
foco, o Major. Todo ele é excesso, pois o actor expande-se e transforma-se pelo
prazer de ser visto e amado (mesmo como o “mau”) pelo público. A sua voz é dinâmica,
diferente, confiante e consciente de ser o centro das atenções e ter que dar o
melhor de si. O Minor vigia o momento de receber a deixa do seu parceiro e
passar a ser Major. Até essa altura, está satisfeito em estar na sombra e
deixar o Major brilhar. Este é o seu jogo. E jogará com ritmos e papéis opostos
aos do Major para promover o conflito e o desenrolar da acção.
Impulso – O impulso em cena não é o impulso da vida
rotineira e quotidiana. Tantas vezes, tentando-se ser “realista” entra-se num
registo tão pequeno que se torna aborrecido ou invisível em palco. E a vida
real é muito maior do que a nossa versão “realista”. O feirante, o homem do
campo, o pedinte, a mulher a gritar, o homem a rir-se, os animais na sua
imprevisibilidade. Todos os movimentos da natureza e da vida têm um impulso
forte porque têm um objectivo ou um jogo por trás. Sem este impulso, tudo em
cena parecerá artificial e aborrecido.
Ritmo – Os diferentes
ritmos de cada actor, os diferentes ritmos entre actores e os diferentes ritmos
dentro de uma cena e entre cenas são no fundo o que conta a história, o que faz
o espectador viver a história. Muitas vezes vemos peças maravilhosamente
escritas representadas com ritmos horríveis e soporíferos e outras sem
“história” que deleitam e prendem o espectador a cada segundo apenas pelo seu
ritmo. Encontrar o ritmo certo para cada momento em cena está intimamente
ligado ao domínio de todos os princípios anteriores.